Às vezes, muito raramente, a gente se depara com uma campanha que te faz pensar: e se as marcas começassem a tratar problemas reais com soluções reais — e não só com postagens genéricas de “#respeito”?
Não tô dizendo que todas são assim, mas fala sério, a maioria não se importa de verdade com o impacto que podem ou deveriam gerar socialmente.
“Ai Lillian que não sei que, não sei que lá, não pode falar assim”, amore é necessário entender que marcas e empresas não estão aí somente e unicamente para fomentar a poxa do capitalismo, algumas entendem isso e fazem bons trabalhos enquanto a maioria se mascara para atrair o público-alvo.

Mas hoje vamos nos concentrar nos casos legais.
A Axa Seguros, gigante do ramo de seguros na França, olhou pro seu produto e decidiu fazer algo fora do básico “cobre incêndio, furto e alojamento” vamos acrescentar ao portfólio: violência doméstica como risco coberto em apólices residenciais. Sim. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
Você leu certo.
Um novo tipo de sinistro: quando o perigo não vem do tempo, mas do teto
Enquanto tem marca gastando energia tentando emplacar trend com dancinha no TikTok, a Axa, em parceria com a agência Publicis Conseil, resolveu tocar numa ferida social pesada – e fazer disso uma ação concreta de impacto.
A lógica é simples, porém genial: se uma seguradora consegue realocar uma família em 24h após uma enchente, por que não fazer o mesmo quando o desastre vem em forma de violência dentro de casa?
Spoiler: agora elas fazem.
E não é só isso.
A campanha é “Three Words”, mas poderia ser “Três Tapas na Cara da Indiferença”

Com filme para TV, mídia social, outdoor e até curta-metragem, a campanha mostra todo o processo de apoio às vítimas — da ligação de socorro até o realojamento. Mas o detalhe que pega mesmo é a sensibilidade com que o tema foi tratado. Sem apelo barato. Sem tentar lacrar. Apenas colocando recursos onde há urgência.
Ah, e tem mais:
Suporte jurídico, psicológico e financeiro, via equipe especializada da subsidiária Juridica.
Cobertura de realocação emergencial por 7 dias (renovável), para que a vítima e seus filhos tenham tempo e segurança para tomar decisões.
“Mas pera, isso é papel da seguradora?” E aí é que mora o pulo do gato.
Se você parou pra pensar isso, é porque o mercado publicitário e empresarial ainda te condicionou a esperar muito pouco das marcas. A gente se acostumou com marcas que só se posicionam quando o calendário exige, tipo “Dia da Mulher”, “Setembro Amarelo” ou “Pride Month”, e ainda assim… com medo de se comprometer demais.
Mas a Axa chegou dizendo:
“Vamos além do post bonitinho. Vamos mexer no contrato.”
E isso muda tudo.
O número que ninguém gosta de ver (mas não dá pra ignorar)
Só na França, o número de denúncias de violência doméstica dobrou entre 2016 e 2023. E a estimativa real, contando os casos que ficam no silêncio, pode passar de 1 milhão de vítimas por ano. É gente demais sendo deixada pra trás.
Pior: 77% das ligações de vítimas falam sobre a necessidade urgente de sair de casa. Ou seja, o risco não é só o agressor. É a falta de opção.
E é justamente aí que a Axa acerta: ela entra na janela crítica. Aquela hora onde tudo escalou, o medo já tomou conta, e a única saída é agir rápido — coisa que, vamos combinar, o Estado nem sempre consegue fazer.
E se mais marcas pensassem assim?

Aqui fica o questionamento maroto:
- Se uma seguradora, tradicionalzona e cheia de papelada, conseguiu se reinventar pra oferecer apoio real a quem mais precisa… por que outras empresas ainda acham que post de empatia resolve alguma coisa?
- Até quando o posicionamento de marca vai ser só discurso de LinkedIn e post com fundo rosa no Dia da Mulher?
- E se a gente passasse a exigir das marcas o mesmo nível de coragem que a Axa mostrou nessa campanha?
Quando a Axa transforma violência doméstica em um risco coberto por apólice, ela não está apenas sendo “moderna” ou “inovadora”. Ela está reconhecendo uma realidade invisibilizada, e usando sua estrutura, seu dinheiro e seu alcance para ser parte ativa da solução.
Isso não é só publicidade. É posicionamento com consequência. É quando a marca entende que relevância não se constrói apenas com viral. Se constrói com coragem.
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